quarta-feira, 21 de julho de 2010

meninos de angola

4 comentários:

  1. Crianças

    Crianças buscai na vossa simplicidade, ferramentas para construirdes pontes e alcançardes sabedoria!
    Que na terra inteira - vosso campo de batalha - possais ensinar os homens que, é na simplicidade, que habita o valor mais elevado.
    Que possais fazer das vossas precariedades os vossos livros.

    Filomena Gomes Camacho (Poetisa Angolana)

    ResponderExcluir
  2. MINHA TERRA

    O entardecer,
    Deixava sobressair as pinceladas
    Com que N'Zambi ia tingindo o céu.

    A natureza,
    Lentamente,
    Orvalhava-se do cacimbo
    Orvalho do cacimbo
    Sangue tonificante
    Do embondeiro
    Das acácias
    Do capim

    Do solo,
    Emergia o perfume da terra,
    Grávida de tudo!

    No charco,
    Pequenos moluscos riscavam as águas
    Compassados pelo coaxar das rãs.

    O batuque,
    Ecoando languido, dorido
    Misturava o som
    Ao cheiro da pele transpirada.

    As mãos, que tamborilavam,
    Eram as mesmas mãos
    Que durante o dia
    Incessantemente se enchiam
    Das gotas de sangue dos cafezeiros.

    Na sanzala,
    Os fogos começavam a crepitar
    As crianças,
    Olhando as formas fantasmagóricas,
    Desenhadas pelas árvores
    Açoitadas pelo vento,
    Imaginavam cazumbiris

    A fuga rápida
    De algum predador,
    Assustando-as,
    Aproximava-as da fogueira
    Que resplandecia vida,
    Aquecendo os corpos extenuados
    Que a circundavam…

    O kissandje,
    Dedilhado, com frenesim,
    Pelos dedos cor de âmbar,
    Gemia a alma
    Enquanto, o tocador,
    Cadenciava a cabeça encarapinhada.


    Filomena Gomes Camacho

    ResponderExcluir
  3. Crianças da guerra.

    Que as estrelas possam irradiar
    Calor, luz, para aquecer e iluminar,
    O frio que flagela, a alma que agonia
    Que se renove Hoje a paz e a alegria

    Nasçam flores aqui, ali, em profusão
    E cada pétala se transforme em pão
    Para a fome, às crianças saciar
    E que haja abundância para cear

    Que a brisa, em melodia suave entoe.
    Nos corações um hino de amor ecoe.
    Acordes anunciem: a paz renasceu
    Acabou a guerra, o bem prevaleceu

    Que as abelhas tragam mel e doçura
    As nuvens agasalho, calor e ternura
    É sonho de criança, é oração, fervor…
    Ao Deus-Menino, Jesus, O Salvador


    Filomena Gomes Camacho

    ResponderExcluir
  4. SONHO DE MENINO

    Quando eu for grande,
    Quero ser um professor.
    E os verbos que são d'amor
    A todos irei ensinar
    A cumprir e conjugar

    Quero ser um engenheiro
    P’ra construir uma ponte
    De nascente até poente,
    Onde possa toda a gente
    Circular p’ra se abraçar!

    E médico também serei.
    Para onde existir a dor
    Eu ali, com muito amor
    E todo empenhamento,
    Sanar o sofrimento!

    Quero ser um calceteiro
    E nas ruas colocar
    Pedras p’ra não magoar,
    Dos meninos, os pézinhos
    Descalços sem sapatinhos

    Das profissões eu não sei
    O que serei com certeza.
    Porém, daquilo que for,
    Farei tudo com amor,
    Valor e grande nobreza!


    Filomena Gomes Camacho
    in (poemas Nossos)

    ResponderExcluir